Camila, profissão artista
A ilustração está lá para maravilhar, abrir possibilidades, inspirar novas ideias.
Com mestrado feito em Artes Visuais pela State University of New York, em Rochester, requisitada e elogiada por seus trabalhos como ilustradora de livros infantis no Brasil, ela trocou o certo pelo inseguro, ao se mudar para Copenhague. Lá, a ilustradora deu lugar à artista plástica e designer de joias. Ao conhecer o projeto Ficção & Meio Ambiente, aceitou o convite para assinar a capa e as ilustrações do primeiro volume da coleção: As águas pedem socorro. No alvorecer de uma segunda-feira de agosto, Camila Mesquita e eu conversamos sobre seu trabalho. Ela, sentada em um Café, ao lado da principal praça da capital da Dinamarca. Eu, na minha taba, no alto do Caaguaçu paulistana.
[06:53, 15/08/2022] Aba: Qual foi seu gatilho criativo para ilustrar o livro As águas pedem socorro?
Camila Mesquita: É difícil dizer. Eu trabalho muito de forma emocional e instintiva. Depois de tantos anos de trabalho, o texto naturalmente me traz imagens. Eu só preciso segui-las.
Aba: E qual costuma ser seu ponto de partida para produzir uma ilustração?
Camila Mesquita: Eu adoro contos de fadas e todo o universo de seres fantásticos e imaginários que habitam nessas narrações. Minha grande inspiração é H.C. Andersen, que além de escrever, fazia silhuetas com tesoura e papel e criava personagens incríveis. Por isso gosto de trabalhar com silhuetas.
O trabalho de ilustração tem que ser divertido, como jogar, brincar com imagens.
Aba: A maneira como você concebe as ilustrações é a mesma para criar a capa?
Camila Mesquita: Não. A capa tem que ser mais concisa, tem que passar a mensagem muito rápido. Na capa, eu tenho que atiçar a curiosidade do leitor, seduzindo-o a pegar o livro e abrir. No caso das ilustrações é outra coisa, o leitor já está lá dentro.
Aba: Como você pensa a relação entre a ilustração e a história?
Camila Mesquita: O trabalho de ilustração tem que ser divertido, como jogar, brincar com imagens. Especialmente para crianças e jovens. Nunca deve ser literal, eu não estou explicando nada para o leitor, pois se o faço, fica chato, sem poesia. A ilustração está lá para maravilhar, abrir possibilidades, inspirar novas ideias. Ficaria chato para mim ter que fazer uma ilustração descritiva do texto
A ilustração faz parte da minha vida
O Abaporu: Qual a reação que você espera do leitor quando ele olha para uma de suas ilustrações?
Camila Mesquita: Não espero reações. É como uma conversa, eu não espero uma resposta específica quando estou em um diálogo com alguém.
Aba: Você abandonou o trabalho de ilustradora por 10 anos. Retomando agora, você sentiu alguma mudança?
Camila Mesquita: Engraçado, achei que fosse ser difícil, por causa desse hiato, mas me surpreendi. Foi fluido, gostoso. Acho que é como andar de bicicleta. Fazer ilustrações faz parte da minha vida, estou sempre inventando personagens e histórias visuais para o meu próprio prazer. Não penso no mercado, faço o que gosto. De alguma maneira natural, sempre me mantenho antenada.
Aba: E, hoje, quais são suas referências? Do que você vê, lê, ouve, o que a inspira?
Camila Mesquita: Acho que agora são as artes têxteis. Leio muito sobre a história dos tecidos em várias culturas. Norte da África, Índia, Japão. Adoro ler sobre culinária e experimentar novos temperos e receitas. Sou muito da experimentação. E estou revendo Matisse, que é o meu grande mestre. Gosto muito de ler Jung e James Hillman. Eles me inspiram a ter uma visão ampla e profunda do que é estar nesse mundo.
Estou numa fase de transição, algo muito novo está surgindo
Aba: Além de ilustradora, você se expressa como artista plástica e designer de joias. Esses trabalhos acrescentam algo seu trabalho como ilustradora? Ou são atitudes e procedimentos independentes?
Camila Mesquita: Está tudo cozinhando na mesma panela, não dá para separar. Tudo dá gosto a tudo e essa alquimia vai criando o meu trabalho que, na verdade, não vejo como trabalho, pois é a minha vida, como eu transito no mundo.
Aba: Para onde caminha seu projeto artístico? Em que etapa você acha que ele se encontra hoje?
Camila Mesquita: Estou numa fase de transição, algo muito novo está surgindo, mas ainda está em estado de semente. Agora é ter paciência para ver o que quer brotar. Não posso forçar, só estar aberta.
[07:23, 15/08/2022] Aba: Um pedido: você pode fazer uma selfie, agora, mostrando além de você, um pouco do ambiente em que você está conversando comigo?