Engenheira enfeitiçada pela ficção
"É como se eu mesma encarnasse um personagem."
Engenheira ambiental doutorada, ela abraçou a literatura pelo prazer de imaginar histórias. Não se arrependeu. Já são quatro romances publicados, contos abrigados em algumas antologias. Da concepção da ideia até o planejamento de estratégias para levar suas histórias o público de leitores, ela cuida de tudo, nos detalhes. Escritora de tempo dedicado, Katia Parente não recusa desafios, como o de imaginar histórias para novos públicos. Ela assina os primeiros títulos da Coleção Ficção & Meio Ambiente, primeiro projeto editorial de fôlego da Abacauan.
Aba – No passado, ficou famoso o engenheiro que virou suco. Como foi que a engenheira ambiental virou escritora de literatura de ficção?
Katia Parente - Enquanto procurava emprego, comecei a escrever minha primeira história. Isso foi em 2018. De lá pra cá, não parei mais.
Aba – De repente, deu um estalo, e você saiu escrevendo? Ou recorreu a algum método, frequentou algum curso?
Katia Parente - Foi um estalo! Escrevi a história que veio pronta na minha cabeça, e virou prazer. Depois, fiz um curso de escrita e pesquisei sobre a construção de personagens. Ainda tenho muito a melhorar. Hoje leio os livros com um olhar diferente, aprendendo com outros escritores.
Aba: E de onde você tira suas ideias para uma nova história. A tal inspiração?
Katia Parente: Às vezes, assistindo um filme, outras ouvindo a história de alguém, mas na maioria surge uma ideia do nada. Uma vez sonhei uma coisa tão absurda que coloquei em um livro, O segredo e um baú. Acho que quanto mais criamos, mais coisas aparecem e novas ideias surgem.
Aba: Você tem o hábito de andar com um caderninho ou tablet para anotar uma ideia, uma frase, quando surge na cabeça?
Katia Parente: Um caderno. Como disse um colega escritor, prefiro o modo analógico. Papel e caneta, sempre.
Aba: Você segue algum ritual quando se senta para escrever?
Katia Parente: Sim! É como se eu mesma encarnasse um personagem. Coloco os fones só para me desligar do mundo, sem música. Aí entro na história como se estivesse lá, naquela cenário. A partir daí, deixo fluir.
Aba: Quando você empaca em um trecho da história que está escrevendo, o que você faz?
Katia Parente: Eu paro e deixo descansar por um tempo. Descansar a história e minha cabeça. Às vezes, por dias, semanas, até que uma ideia melhor aparece e volto a escrever. Isso já aconteceu muitas vezes, e quando volto, tenho tudo meio pronto na cabeça.
Aba: Personagens ou situações costumam ser mais inspiradores para você?
Katia Parente: Situações. Depois crio a personagem para aquela situação, que pode ser baseada em alguém.
Aba: Você prefere uma determinada hora do dia para escrever?
Katia Parente: Normalmente prefiro escrever à tarde, quando já finalizei as outras tarefas, assim fico concentrada só nisso, para pesquisar e escrever.
Aba: Você se programa para escrever? Reserva diariamente um número de horas por dia?
Katia Parente: Não. Eu tento fazer isso, mas, no geral, vou até terminar um trecho. Ou, então, apenas jogo as ideias e depois retomo no dia seguinte para organizar o texto. Deixo fluir livre até perceber que não tenho mais nada a acrescentar.
Aba: Você já tinha escrito de encomenda antes da Coleção Ficção & Meio Ambiente?
Katia Parente: Literatura foi a primeira vez. A Coleção Ficção & Meio Ambiente foi uma curva da vida onde esbarrei com um amigo que me apresentou essa ideia e, então, coloquei no papel. Confesso que fiquei muito satisfeita com o desafio e o resultado.
Aba: Quais as diferenças entre escrever uma história que você pensou e, outra, de encomenda?
Katia Parente: Bom, inspirada eu deixo solto e escrevo o que vier na cabeça, com foco apenas no enredo principal. Às vezes, eu mudo tudo no meio do caminho. Agora, demandada, foi uma experiência muito boa. Confesso que no início achei que seria difícil, receio de ter a criatividade bloqueada. Mas, depois, percebi que não é assim. É possível ser criativa e direcionar a história para onde precisa, incluindo informações que são exigidas no projeto. Hoje, consigo usar isso como um treino para os outros livros, criando e incluindo coisas que, talvez, eu não colocasse nos livros autorais, mas que percebo são interessantes para a narrativa.
Aba: Qual a melhor crítica, ou opinião, que você leu ou ouviu sobre seus livros? E a pior?
Katia Parente - Recebi críticas diferentes. Certa vez um amigo me disse que meus livros o estão ajudando a retomar o hábito da leitura. Esse foi o melhor resultado que pude alcançar, gostaria de ouvir mais vezes. Um leitor disse que meus livros são fáceis de ler e agradam de forma tranquila. Mas, já ouvi algo como “é legal”, o que interpreto como não ter feito nenhuma diferença. Não fazer diferença nenhuma é péssimo!
Aba: Qual é seu projeto como escritora?
Katia Parente: O que tenho como objetivo é que as pessoas gostem de ler histórias como eu gosto. Quero escrever muitos livros e fazer com que eles cheguem ao público.