Arena Conta Tiradentes revisitado

Vivenciar a linguagem estética do Teatro de Arena

Esta foi a proposta da atriz e doutora em Artes Cênicas Mirtes Mesquita ao grupo de atores que se inscreveu na Oficina mediada por ela, durante o mês de abril. Um grupo em que a mais jovem participante tinha 19 anos, e o mais experiente 49.

Em oito sessões desenvolvidas no espaço da Oficina Cultural Oswald de Andrade, o grupo fez uma imersão na proposta estética desenvolvida pelo Teatro de Arena, e teorizada por seu diretor Augusto Boal.

O foco

A peça escolhida foi Arena Conta Tiradentes, encenada no ano de 1967. A montagem é uma referência na história do Teatro de Arena por ter consolidado conceitos de encenação e interpretação desenvolvidos nos laboratórios de dramaturgia e interpretação, liderados por Boal, em parceria com Gianfrancesco Guarnieri e Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha. 

Tiradentes na Oficina

Para apreender a proposta do Teatro da Arena em tão curto espaço de tempo, os alunos que participaram da Oficina se concentraram em recriar algumas das cenas da peça.

O gás para a empreitada veio de uma sacada da mediadora. Em sua metodologia ela se vale da linguagem musical como elemento integrador e ao mesmo tempo impulsionador da dinâmica dos trabalhos que realiza.

Carência suprida com ousadia criativa

Diferente do que sucedeu a outra peça musical do Arena, Zumbi, de que se tem registro audiovisual e fonográfico, de Tiradentes  há apenas uma, ou duas, de suas músicas gravadas. E assim mesmo quando a peça já não estava mais em cartaz. O que é uma pena, quando se lê na ficha técnica do espetáculo que sua trilha musical foi composta pelos então jovens autores Gilberto Gil, Caetano Veloso, Sidney Miller e Theo de Barros.

Da carência Mirtes fez fortuna ao propor a seus pupilos recriarem algumas músicas da peça, apoiando-se nas letras e nos exercícios de improvisação. 

Com Antunes, decolou para conquistar seu espaço

Credencial para sustentar sua aposta Mirtes Mesquita tem. Atriz formada no primeiro ano do Curso de Interpretação do Departamento de Teatro da ECA/USP, seu batismo de fogo foi no grupo  que realizou, sob a direção de Antunes Filho, a até hoje celebrada montagem de Macunaíma, versão para o palco do romance de Mário de Andrade, marco do modernismo brasileiro, ícone da antropofagia cultural brasileira.

Depois da experiência macunaímica, Mirtes correu mundo, diversificando seu interesse pelas Artes Cênicas, direcionando seu foco para as manifestações de cultura popular. O que a levou ao encontro de suas raízes caboclas, tema de sua tese de doutorado, defendida no ano de 2022. Nela, a figura do jesuíta José de Anchieta e sua pedagogia centrada na poesia e no teatro são destacados. 

1789 reverberou em 1967, que reverbera em 2023

Como sugere o mito do eterno retorno, a atmosfera autoritária de 1967, no Brasil e no mundo, reverbera na segunda década deste século 21, assim como a revolta dos inconfidentes reverberou em 1967, o ano em que a peça do teatro de Arena foi encenada.

Velhos fantasmas do autoritarismo totalitário são hoje ressuscitados por lideranças no Brasil, e no mundo, como soluções novas para velhos problemas. O que explica, em parte, o terror, o preconceito, a política de terra arrasada contra a cultura e os artistas, em particular. 

Não foram soluções no passado. Continuam não sendo hoje. Sim, a história se repete como farsa.   

Há esperança quando parte da nova geração se interessa em compreender o passado, o que o teatro, como a fênix mitológica, é capaz de reviver em som e movimento.  No caso da Oficina orientada por Maria Mirtes Mesquita, de uma maneira viva e intensa.

Arena conta Tiradentes nesse sentido é uma experiência rica e inspiradora, que a feliz proposta de Mirtes Mesquita, com generosidade, proporciona.    

 A oficina documentada

Abacauan participou dessa experiência, registrando as sessões. Para quem se interessar em conferir o resultado da Oficina Teatro de Arena, o minidocumentário realizado por Douglas Salgado está disponível para visualização nos links abaixo:

 https://www.youtube.com/watch?v=EjKZ4TmK4so

https://studio.youtube.com/channel/UCBmUot_iMphW2QRekb2pQBQ

 

 

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